1.11.2010
Reformas e oportunidade
por Germano Rigotto
O ambiente de início de governo, em meio à relativa renovação da classe política nacional, sempre é propício para levar adiante as reformas estruturais. Por óbvio, já vi esse mesmo clima nascer inúmeras outras vezes – e ficar apenas no ar, sem nenhum avanço significativo. O próprio status quo dos eleitos é, em si, contraditório com a ideia de modificação nas regras do jogo eleitoral, beneficiários que são delas mesmas. Num momento secundário do mandato, as pautas macro costumam sumir, o cotidiano do governo se impõe e os próprios formadores de opinião deixam de tratar desses temas. O comodismo se instala, um certo “deixa como está”. E aí já se aproxima a eleição seguinte, vantagens pragmáticas em jogo, necessidade de não contrariar grupos de interesse.
É preciso, pois, ser realista: tem faltado ao nosso País – e, especificamente, à maioria de seus representantes políticos e sociais – o tão propalado espírito republicano. Porém, fico na expectativa de o governo Dilma efetivamente encampe esse espírito reformista – de mudanças estruturais, para além da mera administração do cotidiano. Do ponto de vista estratégico, não creio que o melhor caminho seja propor um grande pacote com pretensões de esgotar todos os aspectos das reformas. Pacotes, por sinal, não acionam boas lembranças na memória medianamente recente do povo brasileiro. Entretanto, de uma a outra modificação pontual, é possível implantar avanços graduais.
Há dois pressupostos elementares para isso acontecer: vontade do Palácio do Planalto e ambiente político favorável – o que se consegue com mais facilidade no instante pós-eleitoral, onde ainda efervesce o apoio popular. Diante de tais parâmetros, vejo uma avenida de possibilidades para isso ocorrer. Eis a chance de tocar as reformas estruturais, seja global, seja pontualmente. E todos quantos perceberem isso, superando interesses menores, inscreverão seu nome nos capítulos de um novo Brasil que pede passagem. O Brasil-potência que tanto almejamos, mais moderno, mais justo, mais competitivo. Caso contrário, será mais uma página virada e esquecida pela história das transformações.




