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29.01.2013

Dor, solidariedade e reação

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Não há outro assunto para ser tratado neste momento senão a tragédia de Santa Maria. Hoje e nos próximos dias. Nada é superior à dor dos familiares e amigos dos jovens que se foram, mas o sentimento das pessoas próximas é compartilhado por cada gaúcho e brasileiro. Todos nos vemos envoltos pela tristeza da tragédia e das perdas humanas que ela causou. Quem é pai e possui filhos jovens, como é meu caso, fica ainda mais tocado. Toda morte é doída. A de um jovem, tanto mais. A de muitos, incomensurável.

Passaremos por dias de muita consternação. A cada projeto de vida ceifado que formos conhecendo, mais sofrimento. Não é para menos: estamos diante da maior tragédia que o Rio Grande do Sul já viveu. É preciso consolar as famílias e garantir que cada um viva o enlutamento ao seu modo, seja íntimo ou aberto. Seja revoltado ou passivo. Com choro ou silêncio comiserado. Agora cabe estender a mão, emprestar solidariedade e ajudar essas pessoas. Não para substituir a dor da perda, mas para tentar abrandá-la – tanto quanto humanamente seja possível.

A propósito: também teremos dias de muita movimentação em relação às vítimas que ainda estão em diversos hospitais. Devemos ficar atentos aos pedidos das equipes médicas e assistenciais, de modo a criar uma rede cívica de atendimento às necessidades que forem anunciadas. Doação de sangue e assistência psicológica serão algumas das demandas que estão vindo a público. Todos podem ajudar, quem sabe até como início de uma prática que se transforme de ocasional em permanente.

Passaremos ainda pela evolução das investigações, que devem ter boa técnica e celeridade. É momento para dar início a um debate sobre os padrões de segurança para boates e casas de eventos, o que deve ser feito em parceria com os próprios empresários do setor. Não se trata de criar exigências impossíveis ou de satanizar setores, mas de construir uma nova regulamentação para atividades que envolvam tantas pessoas. E isso envolve necessariamente o poder público de todas as esferas.

Enfim, entramos numa semana em que as palavras não alcançarão os fatos. Tudo é muito mais complexo do que se possa expressar através do vernáculo. Emprestamos nossas condolências e nossas orações. Teremos muito a refletir, outro tanto a chorar. Que sejamos afetivos para ajudar quem precisa, mas efetivos para fazer o que é preciso. Que as vidas partidas sejam sempre lembradas. Que os pais e familiares se confortem na certeza do reencontro. Que o coração cosmopolita de Santa Maria mantenha a autoestima e recupere a altivez. Que saibamos reagir a tudo isso, fazendo o que cumpre a nós e rezando pelo que só de Deus pode vir.