12.11.2012
Envelhecimento populacional: conquistas e desafios
por Germano Rigotto
Dados de uma recente pesquisa do IBGE, que abordou o envelhecimento da população brasileira, ainda precisam ser analisados com maior atenção. Eles revelam uma tendência que já se viu em outros países, especialmente os do continente europeu, e servem como indicativo de medidas que o Brasil deverá tomar para lidar com essa tendência.
Os números mostram que, em 50 anos, o percentual de idosos mais do que dobrou no país: em 1960, 3,3 milhões tinham mais de 60 anos; em 2010, eram 20,5 milhões. Isso representa 10,8% da população, índice que não passava de 8,5% dez anos antes.
O levantamento também apresenta uma queda na taxa de fecundidade. Em 2010, cada brasileira tinha em média 1,9 filho. Foi a primeira vez que o número ficou abaixo do chamado nível de reposição – 2,1 por mulher –, que garante a renovação das gerações. O índice caiu 20,1% ao longo da última década. Em 2000, cada mulher tinha em média 2,38 filhos. Há 50 anos, a taxa de fecundidade era de 6,3 filhos por mulher – mais que o triplo do que é hoje.
Esse caminho se intensificou na última década. Houve um crescimento absoluto da população entre 2000 e 2010, mas a quantidade de crianças diminuiu. Em 2000, 32,9 milhões de brasileiros tinham menos de 10 anos; em 2010, o número caiu para 28,7 milhões.
A pesquisa traz alento em relação ao desordenado crescimento populacional, embora as classes mais carentes continuem tendo maior incidência de filhos – muitas vezes sem planejamento. Também indica o avanço da medicina e a melhoria da qualidade de vida, uma vez que as pessoas estão vivendo mais.
Porém, enseja uma série de preocupações no campo da previdência privada e dos serviços públicos na saúde. Já insuficientes para atender as demandas dos brasileiros, essas áreas deverão passar por um reordenamento capaz de responder a esse novo pendor da distribuição populacional. A previdência complementar pública ou privada, inclusive com a criação de fundos de reserva, será uma imposição cada vez maior da realidade.
A saúde precisará reformar-se. Os atuais serviços, já muito insatisfatórios, tendem a ser ainda mais demandados na medida em que maior parcela da população tornar-se idosa. Os cuidados com essa faixa etária terão de avançar na especialização e na oferta, ingressando num patamar prioritário no campo da medicina.
O mercado de trabalho, por sua vez, precisará repensar-se na perspectiva dessa mudança. A cultura de empregabilidade para idosos ainda é um fenômeno incipiente. Diversas estatísticas demonstram que essas pessoas têm dificuldade de encontrar um emprego depois dos 50 anos, mas esse cenário vem se transformando gradualmente.
Toda grande notícia traz grandes desafios. Esse é o caso. Devemos comemorar a perspectiva de vida mais longa para os nossos antecessores – e também para nós mesmos e nossos sucessores. Todavia, precisamos construir condições para que essa permanência aconteça com qualidade, tranquilidade e saúde física e mental. Isso envolve uma aposentadoria segura e com renda sustentável, oportunidades de trabalho e um atendimento digno por parte dos serviços públicos, especialmente na saúde. O Brasil tem pouco tempo para preparar tais condições.




