5.01.2015
Planejar as finanças: isso nos diz respeito
Em termos de economia, muitos aspectos não dependem de nós. Todos estamos sujeitos às decisões de governo, às tendências de mercado, ao ambiente internacional e a inúmeras outras variáveis. As nossas finanças pessoais, mesmo de caráter personalíssimo, não são uma ilha. Inclusive quem tem estabilidade fica, em alguma proporção, vinculado a todas essas incidências externas.
Nada disso impede, porém, que os indivíduos e as famílias planejem o uso de seus próprios recursos de maneira adequada. Como em qualquer área da vida, também o dinheiro gera mais benefício quando aplicado com planejamento. Ao contrário do que se imagina, cuidar das economias com mais rigor não é tarefa apenas do setor público ou empresarial. Muitos já descobriram que é preciso tratar também os próprios proventos com um olhar mais criterioso. Isso faz toda a diferença.
Essa necessidade se mostra ainda mais produtiva diante do que se avizinha para 2015. As variáveis, de que falei acima, apontam para turbulências e instabilidades – tanto no Brasil quando no mundo. A inflação, com a liberação de alguns preços que estavam represados, tende a aumentar. Os juros também devem seguir crescendo, com repercussão imediata em cartão de crédito, cheque especial e empréstimos pessoais. O clima de recessão faz transitar menos dinheiro, diminuindo o movimento na área de comércio e serviços. A indústria dá sinais de esgotamento. Algumas commodities estão com preço reduzido. Além disso, o setor primário é sempre pendente das incertezas climáticas.
Quem melhor atravessa esse cenário de dúvidas é o poupador. Ao conseguir guardar dinheiro, ele resiste à tempestade e, de quebra, rentabiliza seus investimentos com a alta do juro. Formar um colchão de segurança financeira é garantia de sustentabilidade pessoal e tranquilidade para a família. Isso tem implicações até mesmo em questões anímicas da convivência familiar, diminuindo as tensões e evitando sofrimentos maiores.
O nome de tal propósito é educação financeira, uma prática que alguns já estão incorporando ao cotidiano. É algo, porém, que precisa estar muito mais presente em nossas rotinas pessoais. O consumidor brasileiro é bastante afeito a comprar supérfluos e muito pouco acostumado a fazer poupança. Na comparação com o público de países mais desenvolvidos, nota-se que o brasileiro gosta de gastar mais em itens de grife, mesmo aqueles com renda média e baixa.
Nenhum problema nisso, até porque o consumo é positivo para a economia. A questão está em encontrar um equilíbrio entre gastar e poupar. O aumento dos índices de poupança é uma meta que o Brasil ainda precisa perseguir, o que depende de um esforço das pessoas e das famílias. Para isso, é preciso disseminar cada vez mais a cultura de educação financeira. Tenho defendido que essa pauta passe a fazer parte dos currículos escolares. Ninguém é obrigado a saber como se lida com os números, mas o Estado tem o dever de repassar esse conhecimento. É uma defesa do cidadão e das próprias bases da economia nacional.
O Banco Central possui um programa nessa direção, o Cidadania Financeira, muito bem comandado pelo diretor Edson Feltrin. A iniciativa promove a informação sobre direitos e deveres do cidadão nessa área. O projeto quer proteger e incluir financeiramente a população, tratando da gestão de finanças pessoais com foco no hábito de poupança e na responsabilidade no uso do crédito. Outra abordagem trata do relacionamento entre os cidadãos e os bancos.
A dica para 2015 é planejar: saber quanto e onde deve ser gasto o nosso dinheiro, dentro do limite de que dispomos. A estabilidade financeira é uma agenda de governo e de mercado. Mas não nos enganemos: no que diz respeito às finanças individuais, ela é também uma pauta dos próprios indivíduos. É aquela velha máxima: ninguém cuida melhor de nós e da nossa família do que nós mesmos. Isso não pode ser delegado. Para as finanças pessoais, vale a mesma regra.




