4.07.2011
Crise grega: ainda há muito pela frente
A última semana terminou com pelo menos duas sinalizações positivas para a economia mundial, especificamente no que diz respeito ao caso da Grécia. Na quarta e quinta-feira, em duas votações seguidas, o primeiro-ministro George Papandreou obteve maioria no Parlamento para implantar um plano de austeridade de cinco anos. Foi uma exigência da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para liberar nova ajuda financeira de 12 milhões de euros.
No sábado, os ministros das Finanças do bloco autorizaram a liberação dessa parcela do empréstimo. Trata-se de um apoio indispensável para o governo grego conseguir pagar dívidas com credores internacionais e evitar a possibilidade de calote. As autoridades elogiaram os avanços das medidas adotadas e, especialmente, a aprovação de reformas e leis cruciais para a estratégia fiscal que foi desenhada.
Porém, é preciso ter prudência e evitar otimismos exagerados. Primeiro, porque a crise grega não se resolverá apenas com esse aporte. Suas raízes são bem mais profundas e suas soluções demandam maior tempo e persistência. Segundo, porque esse problema não é só local, senão que se configura como o caso mais evidente de situações semelhantes que ocorrem na Europa. O contexto tem profundas implicações em toda a economia global.
Basta ver o seguinte: o pacote original para a Grécia foi aprovado há pouco mais de um ano, em maio de 2010. A ideia era dar tempo para a nação iniciar o saneamento de sua economia, reduzindo custos e obtendo dinheiro no mercado. Mas isso não ocorreu até agora. Pelo contrário: a agência de classificação de risco S&P recentemente deu à Grécia a pior nota de risco do mundo. Assim, o país continua tendo diversas dívidas a serem quitadas, mas não tem obtido recursos para refinanciá-las. Por isso, precisou dessa nova ajuda.
O fato é que a Grécia gastou bem mais do que podia na última década, e com isso pediu empréstimos pesados e deixou a sua economia refém de uma crescente dívida. Os gastos públicos foram às alturas e os salários praticamente dobraram sem fonte de financiamento correspondente. Ao mesmo tempo, a receita era afetada pela evasão de impostos – deixando a nação totalmente vulnerável quando o mundo foi afetado pela crise de crédito de 2008. O círculo vicioso fez investidores relutarem em emprestar mais dinheiro ao país. Assim, exigem juros bem mais altos para novos empréstimos que refinanciem sua dívida.
A saída da crise da Grécia – e dos demais integrantes da União Europeia – será fruto de um processo evolutivo, não de ações isoladas. As economias desses países precisam reestruturar-se, adquirindo novos parâmetros de responsabilidade – tais como regulamentação mais rígida, capitalização e maior alavancagem do sistema financeiro. E claro: redução, com urgência, do déficit público. Isso é o mínimo para começar inverter a lógica do declínio. Mas ainda há muito chão pela frente até alcançar uma melhora significativa e segura.




