4.02.2013
Alternativas para um maior crescimento
Vivemos uma fase de dúvidas sobre a economia do Brasil. Nada a ponto de ameaçar nossa estabilidade, tampouco de romper os marcos que já conquistamos. Porém, os sinais que se sobrepõem indicam a necessidade de novas ações para estimular o desenvolvimento. Com ou sem crise internacional, precisamos crescer mais do que em 2012. E veja-se que a previsão de 3,5% de aumento do PIB para este ano, já modesta diante das necessidades do país, vem sendo revisada para baixo semanalmente.
Dentre os principais aspectos que influem nessa pouca ascensão, está a falta de recuperação da indústria nacional, que teve uma retração de 2,7% em 2012. O governo acertou na série de medidas adotadas desde a eclosão dos problemas na Europa e nos EUA, tais como a redução pontual de tributos setoriais, a desoneração da folha de pagamento, a diminuição da taxa básica de juros e programas do BNDES, como o PSI. Porém, se essas iniciativas mantiveram a economia ativa, agora já não mostram o mesmo efeito.
A situação é agravada pela valorização do real. Na última semana, ocorreu o que não se esperava: nossa moeda voltou a subir, ficando abaixo da casa dos R$ 2,00 na cotação com o dólar. Essa é uma péssima tendência para a competitividade do país, causando impactos imediatos junto aos exportadores brasileiros. Além disso, a balança comercial marcou um déficit de US$ 4 bilhões, o pior resultado em 20 anos.
Em reunião no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, do qual faço parte, os conselheiros trouxeram diversas contribuições para ajudar o governo a enfrentar este momento. Elas estão sendo sistematizadas e serão entregues à presidente Dilma nos próximos dias.
Dentre as propostas a serem encaminhadas, o CDES sugere que Banco Central continue intervindo – se necessário, ainda com mais força – para estancar uma valorização maior do real. Também propomos que o governo atue para fazer com que a queda dos juros chegue ao consumidor. E que os financiamentos facilitados alcancem as indústrias de pequeno e médio porte, o que não tem acontecido na proporção necessária.
A taxa Selic tem caído, mas o juro real não apresenta igual descenso. O spread bancário ainda está muito elevado. O governo deve continuar pressionando as instituições bancárias para uma alteração nesses patamares, inclusive se valendo dos bancos públicos para puxar os demais na mesma direção.
Há outra necessidade imperiosa para a salvaguarda da nossa indústria: combater, com mais rapidez e eficiência, a concorrência predatória de produtos estrangeiros. Muitos países estão usando artifícios para burlar as restrições impostas pelo governo brasileiro. O setor calçadista testemunha cotidianamente essas práticas. Há casos de produtos chineses, por exemplo, que fazem uma triangulação através da Indonésia e do Vietnã tão-somente para evitar a taxação imposta pelo Brasil aos calçados chineses. E a resposta da nossa defesa comercial é demasiadamente lenta. Trata-se de uma área ainda pouco estruturada, muito distante do que a dinâmica do mercado exige.
O Conselho também vai sugerir que o governo dê continuidade às medidas de incentivo adotadas até aqui, prorrogando a validade de todas elas. Ao lado disso, vamos reiterar a necessidade de mudanças mais profundas em nosso sistema tributário, bem como na configuração do pacto federativo. Precisamos agir na conjuntura e na estrutura. Logo e no ponto certo. Recuperar o vigor da nossa indústria é condição para o crescimento econômico. Isso deve ser prioridade do país.




