30.01.2012
Educação financeira: um tema para agora
O banco Credit Suisse divulgou, há poucos dias, uma pesquisa mostrando que o consumidor brasileiro é bastante afeito a comprar supérfluos e muito pouco acostumado a fazer poupança. Mesmo aqueles com renda média e baixa são mais propensos a gastar com itens de grife, em comparação com outros seis países emergentes analisados (Rússia, China, Índia, Indonésia, Egito e Arábia Saudita).
Do total de entrevistados no Brasil com salário inferior ao correspondente a US$ 1 mil, 62% disseram-se dispostos a adquirir roupas ou tênis de marca nos próximos 12 meses. O percentual é maior do que o verificado nos demais países analisados. Já entre os que ganham mais de US$ 2 mil, 64% afirmaram que comprarão esse tipo de produto, proporção também superior à verificada nas demais nações em desenvolvimento.
O estudo constatou que os brasileiros poupam cerca de 10% do que ganham. Já os chineses guardam 31%. Entre os casos analisados, apenas o Egito tem poupança menor que o Brasil, de 7%. Nosso consumidor se destaca também no mercado de automóveis: 68% dos entrevistados disseram ter planos de financiar um veículo nos próximos 12 meses, percentual maior do que nos demais países estudados.
Em primeiro lugar, esses resultados não podem ser interpretados apenas de maneira negativa. Isso porque o consumo é essencial à vitalidade econômica de uma nação. O mercado interno, a propósito, tem sido um dos principais sustentáculos do Brasil no enfrentamento mais vigoroso da atual crise internacional. O baixo consumo da população, como se verifica na China, cria uma dependência do exterior e deixa o país mais suscetível a turbulências vindas de fora.
A questão está em encontrar um equilíbrio até mesmo cultural entre gastar e poupar. O aumento dos índices de poupança é uma meta que o Brasil ainda precisa perseguir, o que depende de um esforço das pessoas e das famílias. Dinheiro guardado, principalmente numa hora de crise, é garantia de estabilidade e superação. Quem tem apuro no orçamento doméstico também se endivida menos e, por consequência, tem menor risco de inadimplir e fazer balançar o sistema financeiro. O excesso de dívidas pessoais, a propósito, esteve no epicentro da última crise internacional protagonizada pelos EUA. Aqui, o crescimento da inadimplência dá sinais de preocupação.
Especialistas em infância atestam que a noção de limites deve alcançar os aspectos relacionados ao dinheiro. É preciso ter noção de sua finitude. Mais: num tempo em que a sedução do consumismo ronda o cotidiano, é prudente não deixar que a pecúnia protagonize a vida dos filhos. E esse é um risco não apenas para os mais abastados, senão que para a classe média. A ânsia de tudo prover, se não for bem conduzida, pode gerar uma falsa sensação de comodismo, vaidade e isolamento. E eis que as boas intenções dos pais tendem a criar uma desordem moral, um desvirtuamento.
Muitas famílias já têm despertado para a prática de tratar as finanças pessoais com um olhar mais criterioso. Não exageradamente tecnicista e profissional, até para não perder a leveza do ambiente doméstico, mas de um modo suficiente para controlar melhor os gastos e acompanhar com mais detalhe a evolução do orçamento familiar. De um jeito de organizar receitas e despesas que contribui, inclusive, para o relacionamento entre pais e filhos, maridos e esposas. A transparência e a verdade, afinal, são valores que precisam ser cultivados também – e principalmente – dentro de casa.
Portanto, uma cultura de educação financeira precisa começar a ser pulverizada através de organizações civis ou até mesmo do ensino formal. Na esteira de tantos assuntos que compõem o currículo escolar, certamente há espaço para essa abordagem. O Instituto Reformar, dentre os planos de ação que delineou para 2012, tem nessa pauta como uma de suas prioridades. Vamos colaborar no sentido de incentivar outras instituições a fazerem o mesmo. Afinal, quando as pessoas estão preparadas, a nação avança de maneira mais segura – mesmo diante de eventuais percalços.




